A artista e ativista Jasmeen Patheja coleta desde os anos 2000 roupas de adolescentes e adultas vítimas de violência sexual na Índia. Expõe então coleções dessas roupas em locais de grande visibilidade nas principais cidades indianas, como Bangalore e Mumbai. Há uma expressão corrente na cultura indiana para a violência sexual: “Eve Teasing”, ou, em português, “Provocação de Eva”. Trata-se de um eufemismo que, de certo modo, responsabiliza a mulher pela violência que sofre, como se esta “provocasse” o agressor. Contra o uso dessa expressão, Patheja iniciou uma campanha intitulada “I Never Ask for It” (“Eu nunca pedi por isso”, em português). Um cartaz dessa campanha ilustra este texto. Sabe-se que a violência sexual na Índia está fortemente associada a classificações sociais que inferiorizam certos grupos, nos quais as mulheres têm uma situação ainda mais vulnerável.
Dentre essas classificações, específicas à Índia e sua região, está:
a divisão crescente entre pessoas nascidas no campo e na cidade. Por ser um país majoritariamente urbano, na Índia se estabeleceu uma crescente onda de preconceitos contra a população rural.
a disparidade racial. A Índia abriga uma grande população afrodescendente, que sofre sistematicamente com o preconceito e a violência.
o sistema de castas. Criado há mais de dois milênios, divide rigidamente a sociedade indiana em grupos cujo papel social é determinado pela linhagem cultural.
a luta de classes. Desde a primeira década do século XX, a Índia iniciou um rápido processo de industrialização que levou a crescentes conflitos entre operários e donos de fábrica, dos quais os episódios de violência sexual são uma mera manifestação colateral.
o modelo colonial. Sob domínio direto da Inglaterra desde o século XVIII, a Índia é um país mantido em situação econômica periférica pelos colonizadores, que usufruem de enormes privilégios sociais.