A ARMA DA PROPAGANDA
O governo Médici não se limitou à repressão
Distinguiu claramente entre um setor significativo mas
minoritário da sociedade, adversário do regime, e a massa
da população que vivia um dia a dia de alguma esperança
[5] nesses anos de prosperidade econômica. A repressão
acabou com o primeiro setor, enquanto a propaganda
encarregou-se de, pelo menos, neutralizar gradualmente
segundo. Para alcançar este último objetivo, o governo
contou com o grande avanço das telecomunicações no país
[10] após 1964. As facilidades de crédito pessoal permitiram
expansão do número de residências que possuíam televisão:
em 1960, apenas 9,5% das residências urbanas tinham
televisão; em 1970, a porcentagem chegava a 40%. Por
essa época, beneficiada pelo apoio do governo, de quem se
[15] transformou em porta-voz, a TV Globo expandiu-se até
tornar rede nacional e alcançar praticamente o controle do
setor. A propaganda governamental passou a ter um canal
de expressão como nunca existira na história do país. A
promoção do “Brasil grande potência” foi realizada a partir
[20] da Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), criada
a no governo Costa e Silva, mas que não chegou a ter
importância nesse governo. Foi a época do “Ninguém
segura este país”, da marchinha Prá Frente, Brasil, que
embalou a grande vitória brasileira na Copa do Mundo de
1970.
Boris Fausto, História do Brasil. Adaptado.
A estratégia de dominação empregada pelo governo Médici, tal como descrita no texto, assemelha-se, sobretudo, à seguinte recomendação feita ao príncipe ou ao governante por um célebre pensador da política
“Deve o príncipe fazer-se temer, de maneira que, se não se fizer amado, pelo menos evite o ódio, pois é fácil ser ao mesmo tempo temido e não odiado
“O mal que se tiver que fazer, deve o príncipe fazê-lo de uma só vez; o bem, deve fazê-lo aos poucos (...)"
“Não se pode deixar ao tempo o encargo de resolver todas as coisas, pois o tempo tudo leva adiante e pode transformar o bem em mal e o mal em bem"
“Engana-se quem acredita que novos benefícios podem fazer as grandes personagens esquecerem as antigas injúrias (...)"
“Deve o príncipe, sobretudo, não tocar na propriedade alheia, porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do patrimônio"