A antiga província do Rio de Janeiro, a Mata de Minas, o Norte de São Paulo tiveram uma civilização rural devido ao café.
O Norte do Brasil despovoou-se de escravos que o sul cafeeiro comprava a bom dinheiro. Era o escravo quem arrancava da terra toda essa riqueza. A abolição coincidiu com a decadência das terras que primeiro se cobriam de cafezais.
Por esse tempo, já se havia descoberto terra roxa, no sertão paulista − centenas e centenas de léguas de terra onde o café produz mais prodigiosamente ainda do que nos roçados do Rio de Janeiro. E como o preço do café era alto, e as terras eram baratas logo o sertão paulista se cobriu de fazendas.
O café invade o sul de Minas, transborda sobre o Paraná, insinua-se pelo Triângulo Mineiro.
As estradas de ferro avançavam e irradiavam-se por toda parte; as cidades nasciam e cresciam atropeladamente, vertiginosamente.
Que importa aos proprietários das novas terras virgens que se extingam os antigos escravos? Os escravos, aproveitados todos eles, não bastariam para explorar as vastas regiões que se oferecem à cultura.
(Manuel Bonfim. Leitura para todos. Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Coletânea de Documentos Históricos. São Paulo: SE/CENP, 1985. p. 24)
A importância de uma civilização do café, de que trata o texto, chegou à poesia do modernista Cassiano Ricardo. Vejam-se estes versos de um poema seu:
O cafezal é a soldadesca verde
que salta morros na distância iluminada:
um dois um dois, de batalhão em batalhão,
na sua arremetida acelerada
contra o sertão!
Nesses versos, o poeta desenvolve uma figuração pela qual
enquadra de modo lírico a doçura da paisagem cafeeira.
reconhece o ímpeto desbravador das plantações que avançam.
reafirma o nacionalismo típico de um Gonçalves Dias.
censura o caráter antissocial dos abusos econômicos.
festeja a substituição do escravo pelo colono brasileiro.