A abolição da escravatura no Brasil culminou com a Lei Áurea, de 1888. No entanto, já no século XVIII, encontram-se documentos semelhantes à proposta que foi feita a Manuel da Silva Ferreira pelos seus escravos, em torno de 1789, reproduzida a seguir.
Meu Senhor, nós queremos paz e não queremos guerra; se meu senhor também quiser nossa paz há de ser nessa conformidade, se quiser estar pelo que nós quisermos a saber.
Em cada semana nos há de dar os dias de sexta-feira e de sábado para trabalharmos para nós não tirando um destes dias por causa de dia santo.
Para podermos viver nos há de dar rede, tarrafa e canoas.
Os atuais feitores não os queremos, faça eleição de outros com nossa aprovação. Poderemos plantar nosso arroz onde quisermos, e em qualquer brejo, sem que para isso peçamos licença, e poderemos cada um tirar jacarandá ou qualquer pau sem darmos parte para isso.
(Apud João José Reis e Eduardo Silva. Negociação e conflito, p. 123-124.)
A análise histórica da escravidão no Brasil e a leitura do documento acima reproduzido evidenciam que
os escravos foram agentes ativos no longo processo de transformação do regime escravocrata até sua extinção.
a influência da moral cristã fez com que o tratamento dos escravos no Brasil fosse mais humano que nos outros territórios da América.
os benefícios trazidos pelas leis abolicionistas (Eusébio de Queirós, Ventre Livre e dos Sexagenários) provocaram uma gradativa diminuição de levantes e revoltas de escravos.
a difusão das ideias do liberalismo entre a população escrava transformou essas rebeliões em efetivo instrumento político da campanha abolicionista no século XIX.