[4]
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casalENF e nele assistoEOF;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite,
e mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
graças à minha estrela!
(...)
[5]
Tu não verás, Marília, cem cativos
tirarem o cascalho e a rica terra,
ou dos cercos dos rios caudalosos,
ou da minada serra.
Não verás separar ao hábil negro
do pesado esmeril a grossa areia,
e já brilharem os granetes de oiro
no fundo da bateiaEPF.
(...)
Não verás enrolar negros pacotes
das secas folhas do cheiroso fumo;
nem espremer entre as dentadas rodas
da doce cana o sumo.
Verás em cima da espaçosa mesa
altos volumesEQF de enredados feitos;
ver-me-ás folhear os grandes livros,
e decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus consultos,
tu me farás gostosa companhia,
lendo os fastos da sábia, mestra História,
e os cantos da poesia.
Tomás A. Gonzaga, marilia dirceu
O excerto contém versos que atestam, de modo enfático, que, no Brasil, o Arcadismo, também chamado de Neoclassicismo,
desenvolveu-se em meio rural, ao contrário do caráter citadino que tinha no Velho Mundo.
procurou situar na realidade local os temas e formas de sua matriz europeia.
tornou-se nacionalista, abandonando o internacionalismo que é inerente a sua filiação classicista.
repudiou, em nome do maravilhoso cristão, as referências à mitologia pagã, greco-latina.
imiscuiu-se na política, o que lhe prejudicou a integridade estética.