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Se você acompanhasse um rio,
ah, se você acompanhasse um rio
desde as nascentes puras até longe...
Se fosse o rio Turvo quando chegasse em Edéia
viria peixes, peixes e mais peixes
e a solidão do velho Teófilo
cuja filha encantou um padre corado.
No Nerópolis,
sujos porcos
e em barcos
viajarias
até pelo embrenhado
do Corumbá.
O rio Verde e o rio Corrente
escondem muitas mortes.
Velho Zé Garcia de Santana dizia:
“tomou-veio-d'água...”
Em Formoso tem o rio Escuta,
que muita maldade e coisa ruim escutou.
Em Cavalcante tem o rio Silêncio,
que rosário de sonhos silenciou.
E o rio das Garças, se não tem garças,
tem diamantes e vidas que
a vida amaldiçoou.
O rio do Sono poderia ter sido bom.
Tanto como seu próprio filho
e tanto como seu próprio corpo,
você amaria um rio,
se um dia o acompanhasse
das nascentes puras, até longe, até longe.
GARCIA, José Godoy. Poesia. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 263-264.
Ao tematizar os rios goianos, o poema transcrito alia a objetividade da descrição geográfica à subjetividade das imagens poéticas. Nesse processo, o eu lírico
metaforiza a destruição da natureza ao descrever as consequências da extração de minérios no rio das Garças.
explica os nomes dos rios para reforçar uma visão desenvolvimentista dos recursos hídricos do estado.
recupera expressões regionais, exemplificadas no verso “tomou-veio-d'água”, para evidenciar a relevância econômica dos rios Verde e Corumbá.
destaca a importância dos rios goianos para a constituição do imaginário das cidades por onde passam.
descreve o percurso dos rios pelo estado, a exemplo do verso “das nascentes puras, até longe, até longe”, para enfatizar sua extensão.