FATEC 2018/2

13 de maio Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para mim. É o dia da Abolição. Dia que comemoramos a libertação dos escravos.

    ...Nas prisões os negros eram os bodes espiatorios. [....]

    Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva, para eu ir lá no senhor Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair.

    ...Eu tenho tanto dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles brada:

    – Viva a mamãe!

    A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Ela não tinha. Mandei-lhe um bilhete assim:

    – “Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouco de gordura, para eu fazer uma sopa para os meninos. Hoje choveu e eu não pude ir catar papel. Agradeço. Carolina.”

    ...Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera começou pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetaculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos.

    E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!

    29 de maio [....]

    ...Há de existir alguem que lendo o que eu escrevo dirá...isto é mentira! Mas, as miserias são reais.

MARIA DE JESUS, Carolina. Quarto de Despejo: Diário de uma favelada. São Paulo: Editora Ática, 2017. Adaptado.

O texto foi retirado do livro Quarto de Despejo, diário escrito por Carolina Maria de Jesus, moradora da favela do Canindé, em São Paulo, na década de 1950. A edição reproduz fielmente os manuscritos originais.

Analisando a linguagem apresentada no trecho, conclui-se corretamente que

a

a autora não apresenta reflexão crítica sobre suas experiências por desconhecer a variedade culta do português.

b

o fato de a autora não utilizar a variedade culta se deve ao gênero do texto, uma vez que diários não são escritos visando à publicação.

c

os problemas de ortografia, como em “espiatorio”, e de concordância, como em “quando eles vê”, ocorrem por predominar no texto o sentido denotativo.

d

o texto é predominantemente conotativo, o que se nota por expressões como “hoje amanheceu chovendo” e “a chuva passou”.

e

o texto aborda, de forma crítica e empregando linguagem informal, temas relevantes à sociedade, como fome e pobreza.

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Resposta
E

Resolução

Para resolver a questão, siga estes passos:

  1. Identifique o gênero textual. Trata-se de um diário, gênero em que o autor registra suas vivências e emoções de modo espontâneo e pessoal.
  2. Observe a variedade linguística. No trecho, a autora usa linguagem coloquial, com marcas de oralidade ("brada", "manda os meninos", "tô com dois cruzeiros"). Isso mostra um registro informal, típico da fala e do texto autobiográfico de quem escreve para si mesma.
  3. Detecte a postura crítica. O diário aborda a fome, a pobreza e o contraste entre a Abolição formal (13 de maio) e a escravidão moderna (a fome). Há clara intenção de criticidade social.
  4. Analise as alternativas. Vamos eliminá-las comparando com o trecho:
    • A acusa ignorância da norma culta — incorreto, pois a autora escolhe conscientemente o registro popular.
    • B relaciona a falta de norma culta ao gênero diário — mas diários podem ser publicados e assumem registro coloquial como opção estilística, não como limitação do gênero.
    • C atribui erros ortográficos e de concordância ao predomínio do sentido denotativo — não faz sentido: denotação não gera erros de ortografia ou concordância.
    • D afirma que o texto é conotativo — na verdade, o texto é predominantemente denotativo (fala de fatos reais) e usa linguagem figurada pontualmente, mas não há ênfase em conotação.
    • E aponta que o texto, com linguagem informal, faz crítica social sobre fome e pobreza — é exatamente o que ocorre no trecho.
  5. Conclua. A única afirmação que descreve corretamente o texto é a da alternativa E.

Resposta: E.

Dicas

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Observe as passagens que revelam crítica social (fome, pobreza).
Perceba a diferença entre escolha de registro informal e desconhecimento da norma culta.
Pense se erros ortográficos podem ser explicados por sentido denotativo ou por opção estilística.

Erros Comuns

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Associar coloquialismo a ignorância da norma culta.
Pensar que o gênero diário impede publicação e, por isso, justifica o registro.
Confundir sentido conotativo com uso de expressões cotidianas.
Acreditar que erros de norma surgem por fatores semânticos (denotação).
Revisão

Revisão de Conceitos

  • Diário: Gênero autobiográfico, escrito em primeira pessoa, registro pessoal de fatos e emoções.
  • Variedade Linguística: Diferentes registros (formal, coloquial, popular). A escolha do registro reflete intenção comunicativa.
  • Registro Informal: Uso de oralidade, contrações e vocabulário do dia a dia, sem preocupação com norma culta.
  • Função Denotativa: Enfatiza o sentido literal, referencial — descrição de fatos reais.
  • Crítica Social: Análise e questionamento de problemas da sociedade, como pobreza e fome.
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