[1] Sentado no banco do jardim, Amaro lê os seus poetas.
As folhas da árvore que lhe dá sombra desenham arabescos móveis nas páginas
do livro.
O jardim é uma festa. Passa no ar uma borboleta amarela, como uma folha de
[5] papel de seda levada pelo vento. Um besouro zumbe em torno dum canteiro. Uma rosa
se despetala lentamente e as pétalas rolam para o chão. Há, pelos canteiros, verdes de
todos os matizes. As glicínias perfumam o ar. Por entre a relva se arrastam insetos
minúsculos de asas coloridas.
Amaro fecha o livro e olha o jardim. Por que será que lhe vem à memória a imagem
[10] de Clarissa? Clarissa é parte integrante deste jardim florido e luminoso, Clarissa é como
a relva veludosa, como as glicínias, como as margaridas, como as rosas. Clarissa é
qualquer coisa de agreste e puro. Clarissa é música e é poesia, menina e moça – olhos
abertos para o mistério da vida, alma que amanhece.
Amaro recorda com amargura que na sua adolescência sentiu passar pela sua
[15] frente raparigas em flor, sem sequer levantar os olhos dos livros em cuja leitura
mergulhara. Elas cantavam e riam ao sol. Ele – insensato – pensava que a vida estava
só nos livros...
Agora é tarde. Tarde para voltar. Tarde para corrigir. O milagre da mocidade não se
repete.
VERÍSSIMO, Érico. Clarissa. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 97.
Analise as proposições em relação à obra Clarissa, Érico Veríssimo, e ao Texto 5.
I. Clarissa é uma narrativa ficcional, tem como espaço principal uma pensão, na qual vivem tipos humanos cujas características são comuns às pessoas que vivem em qualquer centro urbano.
II. Em “Clarissa é música e é poesia” (linha 12) ocorre a figura de linguagem metáfora.
III. Na narrativa, Ondina e Nestor são amantes e quando o marido de Ondina, Barata, descobre que a esposa o traiu, ocorre uma tragédia na pensão de D. Eufrasina.
IV. A palavra destacada em “a vida estava só nos livros” (linhas 16 e 17) é, morfologicamente, um adjetivo e passando a oração para o plural o adjetivo também será flexionado – sós.
V. Em “Ele – insensato – pensava” (linha 16), os travessões podem ser substituídos por vírgulas e, ainda assim, mantém-se a correção do texto quanto à pontuação.
Assinale a alternativa CORRETA.
( ) Somente as afirmativas II, IV e V são verdadeiras.
( ) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
( ) Somente as afirmativas I, II e V são verdadeiras.
( ) Somente as afirmativas II e V são verdadeiras.
( ) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
Nesta questão, é avaliado o conhecimento sobre a obra Clarissa, de Érico Veríssimo, bem como a capacidade de identificar figuras de linguagem, analisar aspectos morfológicos e possibilidades de pontuação. A resposta correta é a alternativa (C), pois apenas as afirmações I, II e V são verdadeiras.
• A afirmação I é verdadeira porque Clarissa ocorre em uma pensão na capital, reunindo personagens típicos de um núcleo urbano, todos retratados de forma realista e humana.
• A afirmação II é verdadeira, pois “Clarissa é música e é poesia” apresenta uma metáfora, ao fazer uma associação direta de Clarissa a esses conceitos abstratos.
• A afirmação III é falsa, pois no enredo de Clarissa não há uma tragédia decorrente da descoberta de traição envolvendo Ondina e Nestor.
• A afirmação IV é falsa porque a palavra “só” na expressão “a vida estava só nos livros” funciona como advérbio (significando “somente”), não sendo adjetivo. Se fosse adjetivo, flexionaria no plural, o que não ocorre nesse contexto.
• A afirmação V é verdadeira, pois os travessões em “Ele – insensato – pensava” podem ser substituídos por vírgulas sem comprometer a correção gramatical.
Metáfora: figura de linguagem que estabelece uma comparação implícita entre dois elementos, sem o uso de conectivos.
Análise morfológica: estudo da classe gramatical de cada palavra; por exemplo, "só" pode ser advérbio ou adjetivo, dependendo do contexto.
Pontuação e travessões: os travessões podem isolar expressões intercaladas à frase, e muitas vezes são substituíveis por vírgulas ou parênteses, sem alterar a correção.