[1] Se, em um tempo futuro, muito distante, só
tivessem sobrado de nós vestígios e alguns deles
fossem encontrados, e entre esses, fotografias,
pensemos que um fato seria possível: por meio
[5] delas, para os que as encontrariam, poderia se
operar uma revelação. As fotografias diriam
sobre quem fomos e como vivemos. Caso os
habitantes do futuro encontrassem, por acaso,
soterrado um arquivo de fotografias de guerra,
[10] quem sabe deduziriam a ........ condição daquela
humanidade perdida e suspirariam de alívio pela
nossa ........ . Se, ao contrário, o que
encontrassem fossem álbuns de uma prosaica
família, apreciariam crianças fotografadas, ao
[15] longo dos anos, sempre tão divertidas, cenas de
trivial alegria.
Por um lado, redução: há como superar a
finitude. Por outro, castigo: não se esquecerá
enquanto houver a fotografia. O que se lembra
[20] diante do retrato de um anônimo fotografado no
séc. XIX? Há sempre um encanto imanente
nessas imagens do passado; são como pontos
que não se cruzam, como caminhos indicados
por setas que parecem levar a lugar nenhum.
[25] Mas nos fazem desejar, pela expectativa do que
se pode ver do outro lado, cruzá-los.
Um postulado pode ser enunciado nos termos
de que, se está na imagem, existe; ou, tratando-
se de fotografia, se está na foto, existiu e pode
[30] ou não ainda existir. Na esteira dessa lógica,
então, seria aceitável considerar que esquecer é
humano e lembrar é fotográfico. Se remontarmos
às nossas experiências, considerando o álbum de
família, seguramente a maioria de nós dará como
[35] depoimento a surpresa do encontro com o
passado. A palavra encontro talvez seja um
superlativo do que realmente acontece, visto que
o máximo que a fotografia nos oferece é a
possibilidade de uma projeção do aproximar-se
[40] com o que foi. Há uma tendência em
acreditarmos na foto, desde, é claro, que a
informação nela contida não ........ nossas
certezas projetadas em imagens mentais sobre o
passado. Uma personagem de Virginia Wolf
[45] comenta: “Não possuímos as palavras. Elas estão
por trás dos olhos, não sobre os lábios”. E sem as
palavras, o que contariam as fotografias? Talvez
não possam contar, mas seguramente alguma
coisa do passado vem evocada nelas, como a
[50] dúvida, ou no mínimo a nostalgia daquele fato
fragmentado em imagem, na referência a outra
pessoa em uma festa perdida na lembrança.
Adaptado de: MICHELON, F. F. Introdução. In: MICHELON, F. F.; TAVARES, F. S. (orgs.). Fotografia e memória. Pelotas, RS: EdUFPel, 2008. p. 7-15.
Nas alternativas abaixo, são sugeridas reordenações de segmentos do texto. Desconsiderando mudanças de pontuação, assinale aquela em que se mantém o sentido da frase original.
Deslocamento de por acaso (l. 08) para imediatamente depois de soterrado (l. 09).
Antecipação de cruzá-los (l. 26) para imediatamente depois da forma verbal desejar (l. 25).
Deslocamento do advérbio realmente (l. 37) para imediatamente antes de um superlativo (l. 36-37).
Colocação de é claro (l. 41) entre Há (l. 40) e uma (l. 40).
Deslocamento de seguramente (l. 48) para imediatamente antes de fragmentado (l. 51).