[1] Pergunta: Agora a realidade e a fantasia têm um terceiro aliado, a Internet, que mudou por completo
[2] o jornalismo.
[3] Resposta: A Internet pode ter tomado o lugar do mau jornalismo... Se você sabe que está lendo um jornal
[4] como EL PAÍS, La Repubblica, Il Corriere della Sera…, pode pensar que existe um certo controle da notícia
[5] e confia. Por outro lado, se você lê um jornal como aqueles vespertinos ingleses, sensacionalistas, não
[6] confia. Com a Internet acontece o contrário: confia em tudo porque não sabe diferenciar a fonte
[7] credenciada da disparatada. Basta pensar no sucesso que faz na Internet qualquer página web que fale
[8] de complôs ou que invente histórias absurdas: tem um acompanhamento incrível, de internautas e de
[9] pessoas importantes que as levam a sério.
[10] Pergunta: Atualmente é difícil pensar no mundo do jornalismo que era protagonizado, aqui na Itália,
[11] por pessoas como Piero Ottone e Indro Montanelli…
[12] Resposta: Mas a crise do jornalismo no mundo começou nos anos 1950 e 1960, bem quando chegou a
[13] televisão, antes que eles desaparecessem! Até então o jornal te contava o que acontecia na tarde anterior,
[14] por isso muitos eram chamados jornais da tarde: Corriere della Sera, Le Soir, La Tarde, Evening
[15] Standard… Desde a invenção da televisão, o jornal te diz pela manhã o que você já sabe. E agora é a
[16] mesma coisa. O que um jornal deve fazer?
[17] Pergunta: Diga o senhor.
[18] Resposta: Tem que se transformar em um semanário. Porque um semanário tem tempo, são sete dias
[19] para construir suas reportagens. Se você lê a Time ou a Newsweek vê que várias pessoas contribuíram
[20] para uma história concreta, que trabalharam nela semanas ou meses, enquanto que em um jornal tudo é
[21] feito da noite para o dia. Um jornal que em 1944 tinha quatro páginas hoje tem 64, então tem que preencher
[22] obsessivamente com notícias repetidas, cai na fofoca, não consegue evitar... A crise do jornalismo, então,
[23] começou há quase cinquenta anos e é um problema muito grave e importante.
[24] Pergunta: Por que é tão grave?
[25] Resposta: Porque é verdade que, como dizia Hegel, a leitura dos jornais é a oração matinal do homem
[26] moderno. E eu não consigo tomar meu café da manhã se não folheio o jornal; mas é um ritual quase
[27] afetivo e religioso, porque folheio olhando os títulos, e por eles me dou conta de que quase tudo já sabia
[28] na noite anterior. No máximo, leio um editorial ou um artigo de opinião. Essa é a crise do jornalismo
[29] contemporâneo. E disso não sai!
[30] Pergunta: Acredita de verdade que não?
[31] Resposta: O jornalismo poderia ter outra função. Estou pensando em alguém que faça uma crítica
[32] cotidiana da Internet, e é algo que acontece pouquíssimo. Um jornalismo que me diga: “Olha o que tem
[33] na Internet, olha que coisas falsas estão dizendo, reaja a isso, eu te mostro”. E isso pode ser feito
[34] tranquilamente. No entanto, ainda pensam que o jornal é feito para que seja lido por alguns velhos
[35] senhores – já que os jovens não leem – que ainda não usam a Internet. Teria que se fazer um jornal que
[36] não se torne apenas a crítica da realidade cotidiana, mas também a crítica da realidade virtual. Esse é um
[37] futuro possível para um bom jornalismo.
(EL PAIS. Caderno cultura. 30 de março de 2015. Disponível em http://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/26/cultura/1427393303_512601.html. Acesso em 10 abr. 2016)
Em relação ao uso dos pronomes no texto, é correto afirmar que:
"suas" (linha 19) retoma "dias" (linha 18).
"eu" (linha 26) é a única marca de subjetividade do texto.
"você" (linhas 3 e 5) é uma referência direta ao entrevistado.
"eles" (linha 27) retoma "jornais" (linha 25).
"te" (linha 13) pode ampliar a referência para além do interlocutor.