[1] O que havia de tão revolucionário na
Revolução Francesa? Soberania popular,
liberdade civil, igualdade perante a lei – as
palavras hoje são ditas com tanta facilidade
[5] que somos incapazes de imaginar seu caráter
explosivo em 1789. Para os franceses do
Antigo Regime, os homens eram desiguais, e a
desigualdade era uma boa coisa, adequada à
ordem hierárquica que fora posta na natureza
[10] pela própria obra de Deus. A liberdade
significava privilégio – isto é, literalmente, “lei
privada”, uma prerrogativa especial para fazer
algo negado a outras pessoas. O rei, como
fonte de toda a lei, distribuía privilégios, pois
[15] havia sido ungido como o agente de Deus na
terra.
Durante todo o século XVIII, os filósofos
do Iluminismo questionaram esses
pressupostos, e os panfletistas profissionais
[20] conseguiram empanar a aura sagrada da coroa.
Contudo, a desmontagem do quadro mental
do Antigo Regime demandou violência
iconoclasta, destruidora do mundo,
revolucionária.
[25] Seria ótimo se pudéssemos associar a
Revolução exclusivamente à Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, mas ela
nasceu na violência e imprimiu seus princípios
em um mundo violento. Os conquistadores da
[30] Bastilha não se limitaram a destruir um
símbolo do despotismo real. Entre eles, 150
foram mortos ou feridos no assalto à prisão e,
quando os sobreviventes apanharam o
diretor, cortaram sua cabeça e desfilaram-na
[35] por Paris na ponta de uma lança.
Como podemos captar esses momentos de
loucura, quando tudo parecia possível e o
mundo se afigurava como uma tábula rasa,
apagada por uma onda de comoção popular e
[40] pronta para ser redesenhada? Parece incrível
que um povo inteiro fosse capaz de se
levantar e transformar as condições da vida
cotidiana. Duzentos anos de experiências com
admiráveis mundos novos tornaram-nos
[45] céticos quanto ao planejamento social.
Retrospectivamente, a Revolução pode
parecer um prelúdio ao totalitarismo.
Pode ser. Mas um excesso de visão
histórica retrospectiva pode distorcer o
[50] panorama de 1789. Os revolucionários
franceses não eram nossos contemporâneos.
E eram um conjunto de pessoas não
excepcionais em circunstâncias excepcionais.
Quando as coisas se desintegraram, eles
[55] reagiram a uma necessidade imperiosa de
dar-lhes sentido, ordenando a sociedade
segundo novos princípios. Esses princípios
ainda permanecem como uma denúncia da
tirania e da injustiça. Afinal, em que estava
[60] empenhada a Revolução Francesa? Liberdade,
igualdade, fraternidade.
Adaptado de: DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. In: ____. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 30-39.
Considere as seguintes ocorrências de artigo no texto.
I - O artigo definido na linha 15.
II - O artigo definido singular na linha 17.
III - O artigo definido na linha 46.
Quais poderiam ser omitidos, preservando a correção de seus contextos?
Apenas I.
Apenas II.
Apenas III.
Apenas I e II.
I, II e III.