UFRGS PORT 2017

[1] Não faz muito que temos esta nova TV

com controle remoto, mas devo dizer que se

trata agora de um instrumento sem o qual eu

não saberia viver. Passo os dias sentado na

[5] velha poltrona, mudando de um canal para o

outro – uma tarefa que antes exigia certa

movimentação, mas que agora ficou muito

fácil. Estou num canal, não gosto – zap, mudo

para outro. Eu gostaria de ganhar em dólar

[10] num mês o número de vezes que você troca

de canal em uma hora, diz minha mãe. Tratase

de uma pretensão fantasiosa, mas pelo

menos indica disposição para o humor,

admirável nessa mulher.

[15] Sofre minha mãe. Sempre sofreu: infância

carente, pai cruel, etc. Mas o seu sofrimento

aumentou muito quando meu pai a deixou. Já

faz tempo; foi logo depois que eu nasci, e

estou agora com treze anos. Uma idade em

[20] que se vê muita televisão, e em que se muda

de canal constantemente, ainda que minha

mãe ache isso um absurdo. Da tela, uma

moça sorridente pergunta se o caro

telespectador já conhece certo novo sabão

[25] em pó. Não conheço nem quero conhecer, de

modo que – zap – mudo de canal. ―Não me

abandone, Mariana, não me abandone!‖.

Abandono, sim. Não tenho o menor remorso,

e agora é um desenho, que eu já vi duzentas

[30] vezes, e – zap – um homem falando. Um

homem, abraçado ........ guitarra elétrica, fala

........ uma entrevistadora. É um roqueiro. É

meio velho, tem cabelos grisalhos, rugas,

falta-lhe um dente. É o meu pai.

[35] É sobre mim que ele fala. Você tem um

filho, não tem?, pergunta a apresentadora, e

ele, meio constrangido – situação pouco

admissível para um roqueiro de verdade –, diz

que sim, que tem um filho só que não vê há

[40] muito tempo. Hesita um pouco e acrescenta:

você sabe, eu tinha que fazer uma opção, era

a família ou o rock. A entrevistadora, porém,

insiste (é chata, ela): mas o seu filho gosta de

rock? Que você saiba, seu filho gosta de rock?

[45] Ele se mexe na cadeira; o microfone,

preso ........ desbotada camisa, roça-lhe o

peito, produzindo um desagradável e bem

audível rascar. Sua angústia é compreensível;

aí está, num programa local e de baixíssima

[50] audiência – e ainda tem de passar pelo

vexame de uma pergunta que o embaraça e à

qual não sabe responder. E então ele me

olha. Vocês dirão que não, que é para a

câmera que ele olha; aparentemente é isso;

[55] mas na realidade é a mim que ele olha, sabe

que, em algum lugar, diante de uma tevê,

estou a fitar seu rosto atormentado, as

lágrimas me correndo pelo rosto; e no meu

olhar ele procura a resposta ........ pergunta

[60] da apresentadora: você gosta de rock? Você

gosta de mim? Você me perdoa? – mas aí

comete um engano mortal: insensivelmente,

automaticamente, seus dedos começam a

dedilhar as cordas da guitarra, é o vício do

[65] velho roqueiro. Seu rosto se ilumina e ele vai

dizer que sim, que seu filho ama o rock tanto

quanto ele, mas nesse momento – zap –

aciono o controle remoto e ele some. Em seu

lugar, uma bela e sorridente jovem que está –

[70] à exceção do pequeno relógio que usa no

pulso – nua, completamente nua.

Adaptado de: SCLIAR, M. Zap. In: MORICONI, Í. (Org.) Os cem melhores contos brasileiros. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 547-548. 

 

Assinale a afirmativa correta acerca dos usos das formas verbais no texto e dos seus sentidos.

a

O emprego de temos (l. 01) faz referência ao passado em que o narrador-personagem e sua mãe viveram a experiência de possuir uma televisão com controle remoto. 

b

O emprego de gostaria (l. 09), no futuro do pretérito, faz referência ao desejo do narradorpersonagem de ganhar mensalmente muitos dólares, assim como as muitas vezes em que troca os canais da televisão.

c

Os empregos de Trata-se (l. 11-12) e indica (l. 13) fazem referência ao presente em que o narrador-personagem apresenta a sua opinião sobre a pretensão e a disposição de sua mãe.

d

Os empregos de sofre (l. 15) e sofreu (l. 15), no presente e no pretérito, fazem referência, respectivamente, ao presente e ao passado, momentos em que o narrador-personagem vive com sua mãe.

e

A forma verbal falando (l. 30) revela a ação de falar do pai do narrador-personagem no passado em que o narrador-personagem brincava de trocar os canais da televisão com controle remoto.

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Resposta
C
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