[1] Muita gente que ouve a expressão ―políticas
linguísticas‖ pela primeira vez pensa em algo
solene, formal, oficial, em leis e portarias, em
autoridades oficiais, e pode ficar se
[5] perguntando o que seriam leis sobre línguas.
De fato, há leis sobre línguas, mas as políticas
linguísticas também podem ser menos formais
– e nem passar por leis propriamente ditas.
Em quase todos os casos, figuram no
[10] cotidiano, pois envolvem não só a gestão da
linguagem, mas também as práticas de
linguagem, e as crenças e valores que
circulam a respeito delas. Tome, por exemplo,
a situação do cidadão das classes confortáveis
[15] brasileiras, que quer que a escola ensine a
norma culta da língua portuguesa. Ele folga
em saber que se vai exigir isso dos candidatos
às vagas para o ensino superior, mas nem
sempre observa ou exige o mesmo padrão
[20] culto, por exemplo, na ata de condomínio,
que ele aprova como está, desapegada da
ortografia e das regras de concordância
verbais e nominais preconizadas pela
gramática normativa. Ele acha ótimo que a
[25] escola dos filhos faça baterias de exercícios
para fixar as normas ortográficas, mas pouco
se incomoda com os problemas de redação
nos enunciados das tarefas dirigidas às
crianças ou nos textos de comunicação da
[30] escola dirigidos à comunidade escolar. Essas
são políticas linguísticas. Afinal, onde há
gente, há grupos de pessoas que falam
línguas. Em cada um desses grupos, há
decisões, tácitas ou explícitas, sobre como
[35] proceder, sobre o que é aceitável ou não, e
por aí afora. Vamos chamar essas escolhas –
assim como as discussões que levam até elas
e as ações que delas resultam – de políticas.
Esses grupos, pequenos ou grandes, de
[40] pessoas tratam com outros grupos, que por
sua vez usam línguas e têm as suas políticas
internas. Vivendo imersos em linguagem e
tendo constantemente que lidar com outros
indivíduos e outros grupos mediante o uso da
[45] linguagem, não surpreende que os recursos
de linguagem lá pelas tantas se tornem, eles
próprios, tema de política e objetos de
políticas explícitas. Como esses recursos
podem ou devem se apresentar? Que funções
[50] eles podem ou devem ter? Quem pode ou
deve ter acesso a eles? Muito do que
fazemos, portanto, diz respeito às políticas
linguísticas.
Adaptado de: GARCEZ, P. M.; SCHULZ, L. Do que tratam as políticas linguísticas. ReVEL, v. 14, n. 26, 2016.
Se a expressão políticas linguísticas (l. 06-07) fosse para o singular, quantas outras alterações seriam necessárias no período para manter-se a concordância?
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