[1] Hoje os conhecimentos se estruturam de
modo fragmentado, separado,
compartimentado nas disciplinas. Essa
situação impede uma visão global, uma visão
[5] fundamental e uma visão complexa.
“Complexidade” vem da palavra latina
complexus , que significa a compreensão dos
elementos no seu conjunto.
As disciplinas costumam excluir tudo o que
[10] se encontra fora do seu campo de
especialização. A literatura, no entanto, é uma
área que se situa na inclusão de todas as
dimensões humanas. Nada do humano lhe é
estranho, estrangeiro.
[15] A literatura e o teatro são desenvolvidos
como meios de expressão, meios de
conhecimento, meios de compreensão da
complexidade humana. Assim, podemos ver o
primeiro modo de inclusão da literatura: a
[20] inclusão da complexidade humana. E vamos
ver ainda outras inclusões: a inclusão da
personalidade humana, a inclusão da
subjetividade humana e, também, muito
importante, a inclusão do estrangeiro, do
[25] marginalizado, do infeliz, de todos que
ignoramos e desprezamos na vida cotidiana.
A inclusão da complexidade humana é
necessária porque recebemos uma visão
mutilada do humano. Essa visão, a de homo
[30] sapiens , é uma definição do homem pela
razão; de homo faber , do homem como
trabalhador; de homo economicus , movido
por lucros econômicos. Em resumo, trata-se
de uma visão prosaica, mutilada, que esquece
[35] o principal: a relação do sapiens/demens , da
razão com a demência, com a loucura.
Na literatura, encontra-se a inclusão dos
problemas humanos mais terríveis, coisas
insuportáveis que nela se tornam suportáveis.
[40] Harold Bloom escreve: “Todas as grandes
obras revelam a universalidade humana
através de destinos singulares, de situações
singulares, de épocas singulares”. É essa a
razão por que as obras-primas atravessam
[45] séculos, sociedades e nações.
Agora chegamos à parte mais humana da
inclusão: a inclusão do outro para a
compreensão humana. A compreensão nos
torna mais generosos com relação ao outro, e
[50] o criminoso não é unicamente mais visto
como criminoso, como o Raskolnikov de
Dostoievsky, como o Padrinho de Copolla.
A literatura, o teatro e o cinema são os
melhores meios de compreensão e de
[55] inclusão do outro. Mas a compreensão se
torna provisória, esquecemo-nos depois da
leitura, da peça e do filme. Então essa
compreensão é que deveria ser introduzida e
desenvolvida em nossa vida pessoal e social,
[60] porque serviria para melhorar as relações
humanas, para melhorar a vida social.
Adaptado de: MORIN, Edgar. A inclusão: verdade da literatura. In: RÖSING, Tânia et al. Edgar Morin: religando fronteiras. Passo Fundo: UPF, 2004. p.13-18
Considere as seguintes afirmações, referentes ao uso de tempos e modos verbais no texto.
I - O emprego do presente na forma verbal revelam (l. 41) reforça o caráter generalizador da afirmação, já sinalizado pelo emprego de Todas (l. 40).
II - Os usos de futuro do pretérito em deveria (l. 58) e serviria (l. 60) contribuem para mostrar que o autor conclui a argumentação com soluções possíveis e desejáveis.
III- A presença no texto de verbos nos modos indicativo e subjuntivo confere sentidos de certeza e de possibilidade à argumentação.
Quais estão corretas?
Apenas I.
Apenas II.
Apenas I e II.
Apenas I e III.
I, II e III.