ITA 2010

[1]   Foi tão grande e variado o número de e-mails, telefonemas e abordagens pessoais que recebi depois de  

escrever que família deveria ser careta, que resolvi voltar ao assunto, para alegria dos que gostaram e náusea  

dos que não concordaram ou não entenderam (ai da unanimidade, mãe dos medíocres). Atenção: na minha  

coluna não usei “careta” como quadrado, estreito, alienado, fiscalizador e moralista, mas humano, aberto,  

[5] atento, cuidadoso. Obviamente empreguei esse termo de propósito, para enfatizar o que desejava.  

  Houve quem dissesse que minha posição naquele artigo é politicamente conservadora demais. Pensei  

em responder que minha opinião sobre família nada tem a ver com postura política, eu que me considero um  

animal apolítico no sentido de partido ou de conceitos superados, como “a esquerda é inteligente e boa, a  

direita é grossa e arrogante”. Mas, na verdade, tudo o que fazemos, até a forma como nos vestimos e  

[10] moramos, é altamente político, no sentido amplo de interesse no justo e no bom, e coerência com isso.  

  E assim, sem me pensar de direita ou de esquerda, por ser interessada na minha comunidade, no meu  

país, no outro em geral, em tudo o que faço e escrevo (também na ficção), mostro que sou pelos desvalidos.  

Não apenas no sentido econômico, mas emocional e psíquico: os sem auto-estima, sem amor, sem sentido de  

vida, sem esperança e sem projetos.  

[15]   O que tem isso a ver com minha idéia de família? Tem a ver, porque é nela que tudo começa, embora  

não seja restrito a ela. Pois muito se confunde família frouxa (o que significa sem atenção), descuidada (o que  

significa sem amor), desorganizada (o que significa aflição estéril) com o politicamente correto. Diga-se de  

passagem que acho o politicamente correto burro e fascista.  

  Voltando à família: acredito profundamente que ter filho é ser responsável, que educar filho é observar,  

[20] apoiar, dar colo de mãe e ombro de pai, quando preciso. E é também deixar aquele ser humano crescer e  

desabrochar. Não solto, não desorientado e desamparado, mas amado com verdade e sensatez. Respeitado e  

cuidado, num equilíbrio amoroso dessas duas coisas. Vão me perguntar o que é esse equilíbrio, e terei de  

responder que cada um sabe o que é, ou sabe qual é seu equilíbrio possível. Quem não souber que não tenha  

filhos.  

[25]   Também me perguntaram se nunca se justifica revirar gavetas e mexer em bolsos de adolescentes.  

Eventualmente, quando há suspeita séria de perigos como drogas, a relação familiar pode virar um campo de  

graves conflitos, e muita coisa antes impensável passa a se justificar. Deixar inteiramente à vontade um filho  

com problema de drogas é trágica omissão.  

  Assim como não considero bons pais ou mães os cobradores ou policialescos, também não acho que os  

[30] do tipo “amiguinho” sejam muito bons pais. Repito: pais que não sabem onde estão seus filhos de 12 ou 14  

anos, que nunca se interessaram pelo que acontece nas festinhas (mesmo infantis), que não conhecem nomes  

de amigos ou da família com quem seus filhos passam fins de semana (não me refiro a nomes importantes,  

mas a seres humanos confiáveis), que nada sabem de sua vida escolar, estão sendo tragicamente  

irresponsáveis. Pais que não arranjam tempo para estar com os filhos, para saber deles, para conversar com  

[35] eles... não tenham filhos. Pois, na hora da angústia, não são os amiguinhos que vão orientá-los e ampará-los,  

mas o pai e a mãe – se tiverem cacife. O que inclui risco, perplexidade, medo, consciência de não sermos  

infalíveis nem onipotentes. Perdoem-me os pais que se queixam (são tantos!) de que os filhos são um fardo, de  

que falta tempo, falta dinheiro, falta paciência e falta entendimento do que se passa – receio que o fardo, o  

obstáculo e o estorvo a um crescimento saudável dos filhos sejam eles.  

[40]   Mães que se orgulham de vestir a roupeta da filha adolescente, de freqüentar os mesmos lugares e até  

de conquistar os colegas delas são patéticas. Pais que se consideram parceiros apenas porque bancam os 

garotões, idem. Nada melhor do que uma casa onde se escutam risadas e se curte estar junto, onde reina a  

liberdade possível. Nada pior do que a falta de uma autoridade amorosa e firme.  

  O tema é controverso, mas o bom senso, meio fora de moda, é mais importante do que livros e revistas  

[45] com receitas de como criar filho (como agarrar seu homem, como enlouquecer sua amante...). É no velhíssimo  

instinto, na observação atenta e na escuta interessada que resta a esperança. Se não podemos evitar  

desgraças – porque não somos deuses –, é possível preparar melhor esses que amamos para enfrentar seus  

naturais conflitos, fazendo melhores escolhas vida afora.

(Lya Luft. Veja, 06/06/2007) 

 

Indique a opção em que o MAS tem função aditiva. 

a

Atenção: na minha coluna não usei “careta” como quadrado, estreito, alienado, fiscalizador e moralista, mas humano, aberto, atento, cuidadoso. (linhas 3 a 5) 

b

Não apenas no sentido econômico, mas emocional e psíquico: os sem auto-estima, sem amor, sem sentido de vida, sem esperança e sem projetos. (linhas 13 e 14) 

c

Não solto, não desorientado e desamparado, mas amado com verdade e sensatez. (linha 21) 

d

[...] (não me refiro a nomes importantes, mas a seres humanos confiáveis) [...]. (linhas 32 e 33) 

e

Pois, na hora da angústia, não são os amiguinhos que vão orientá-los e ampará-los, mas o pai e a mãe – se tiverem cacife. (linhas 35 e 36) 

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B
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