UnB 2012/2

[1]     Esta história começa numa noite de março tão escura
quanto é a noite enquanto se dorme. O modo como, tranquilo, o
tempo decorria era a lua altíssima passando pelo céu.
[4]     Fora para o lado do mar que aquele homem pretendera
ir, antes mesmo de ter encontrado por feliz acaso o hotel. Mas —
sem mapa, conhecimento ou bússola — embrenhara-se terra
[7] adentro.
         “Hoje deve ser domingo” — chegou mesmo a pensar
com certa glória, e domingo seria o grande coroamento de sua
[10] isenção. Tratava-se de seu primeiro pensamento claro, desde que
deixara o hotel. Na verdade, desde que fugira, era o primeiro
pensamento que não tinha mera utilidade de defesa. De início,
[13] aliás, Martim até não soube o que fazer com ele. Apenas
agitou-se à novidade, e coçou-se voraz sem parar de andar.
         Foi mais além que estacou diante do primeiro
[16] passarinho. O passarinho negro estava pousado num ramo baixo,
à altura de seus olhos; com mão pesada e potente, o homem
pegou-o sem machucá-lo, com a bondade física que tem uma
[19] mão pesada.
         Com o leve peso a carregar, o homem continuou sua
marcha entre pedras.
[22]    — Não sei mais falar, disse, então, para o passarinho,
evitando olhá-lo...
         Só depois pareceu entender o que dissera, e então olhou
[25] face a face o sol. “Perdi a linguagem dos outros”, repetiu, então,
bem devagar, como se as palavras fossem mais obscuras do que
eram, e de algum modo muito lisonjeiras.
[28]    Alguma coisa estava lhe acontecendo. E era alguma
coisa com um significado, embora não houvesse um sinônimo
para essa coisa que estava acontecendo. E não havia sinônimo
[31] para nenhuma coisa...
         Aquele homem rejeitara a linguagem dos outros e não
tinha sequer começo de linguagem própria. E, no entanto, oco,
[34] mudo, rejubilava-se. Assim, ao remexer agora com fascínio
ainda cauteloso na linguagem morta, ele tentou, por pura
experiência, dar o título antigamente tão familiar de “crime” a
[37] essa coisa tão sem nome que lhe sucedera.
Clarice Lispector. A maçã no escuro. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (com adaptações).

 

Com base no texto acima e nos aspectos por ele suscitados, julgue o seguinte item.

O parágrafo iniciado à linha 24 contém um esclarecimento a respeito do conteúdo do trecho “Não sei mais falar” (l.22).

a

CERTO

b

ERRADO

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Resposta
A
Resolução
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