[1] À porta do Grande Hotel, pelas duas da
tarde, Chagas e Silva postava-se de palito à
boca, como se tivesse descido do restaurante
lá de cima. Poderia parecer, pela estampa,
[5] que somente ali se comesse bem em Porto
Alegre. Longe disso! A Rua da Praia que o
diga, ou melhor, que o dissesse. O faz de
conta do inefável personagem ligava-se mais
à importância, à moldura que aquele portal
[10] lhe conferia. Ele, que tanto marcou a rua,
tinha franco acesso às poltronas do saguão
em que se refestelavam os importantes.
Andava dentro de um velho fraque, usava
gravata, chapéu, bengala sob o braço, barba
[15] curta, polainas e uns olhinhos apertados na
........ bronzeada. O charuto apagado na boca,
para durar bastante, era o toque final dessa
composição de pardavasco vindo das Alagoas.
Chagas e Silva chegou a Porto Alegre em
[20] 1928. Fixou-se na Rua da Praia, que percorria
com passos lentos, carregando um ar de
indecifrável importância, tão ao jeito dos
grandes de então. Os estudantes tomaram
conta dele. Improvisaram comícios na praça,
[25] carregando-o nos braços e fazendo-o
discursar. Dava discretas mordidas e
consentia em que lhe pagassem o cafezinho.
Mandava imprimir sonetos, que “trocava” por
dinheiro.
[30] Não era de meu propósito ocupar-me do
“doutor” Chagas e, sim, de como se comia
bem na Rua da Praia de antigamente. Mas ele
como que me puxou pela manga e levou-me
a visitar casas por onde sua imaginação de
[35] longe esvoaçava.
Porto Alegre, sortida por tradicionais
armazéns de especialidades, dispunha da
melhor matéria-prima para as casas de pasto.
Essas casas punham ao alcance dos gourmets
[40] virtuosíssimos “secos e molhados” vindos de
Portugal, da Itália, da França e da Alemanha.
Daí um longo e ........ período de boa comida,
para regalo dos homens de espírito e dos que
eram mais estômago que outra coisa.
[45] Na arte de comer bem, talvez a dificuldade
fosse a da escolha. Para qualquer lado que o
passante se virasse, encontraria salões
ornamentados, ........ maiores ou menores,
tabernas ou simples tascas. A Cidade divertiase
[50] também pela barriga.
Adaptado de: RUSCHEL, Nilo. Rua da Praia. Porto Alegre: Editora da Cidade, 2009. p. 110-111.
Assinale a alternativa que apresenta a correta passagem de segmento do texto da voz ativa para a voz passiva.
Chagas e Silva postava-se de palito à boca (l. 02-03) – Chagas e Silva era postado de palito à boca (B) Ele, que tanto marcou
Ele, que tanto marcou a rua (l. 10) – A rua, que tanto foi marcada por ele
Fixou-se na Rua da Praia (l. 20) – Foi fixado na Rua da Praia
Os estudantes tomaram conta dele (l. 23-24) – Ele foi tomado conta pelos estudantes
Essas casas punham ao alcance dos gourmets virtuosíssimos “secos e molhados” (l. 39-40) – Os gourmets eram postos ao alcance de virtuosíssimos “secos e molhados” por essas casas