[01]Os bons maridos de Esparta
[02]O espartano casado, se encontrasse um rapagão belo e imponente, oferecia-lhe a sua mulher,
[03]para que reproduzissem. Era a eugenia: o “aperfeiçoamento” da raça por meio da seleção genética.
[04]Licurgo, o grande legislador, caçoava dos que ________ em partilhar as esposas, dizendo que
[05]eles se importavam mais com a reprodução de seus cães e cavalos do que com a de suas
[06]mulheres. A ________ dos espartanos era formar uma casta de guerreiros.
[07]Há uma passagem da Batalha das Termópilas em que o rei Leônidas, marchando à frente de
[08]seus 300 soldados, encontra o pelotão de 7 mil aliados de outras cidades.
[09]O comandante dos aliados olha para aquele punhado de homens e se espanta, sabendo que o
[10]inimigo persa conta com um exército de centenas de milhares de combatentes.
[11]– Mas você só trouxe esses soldados? – pergunta, incrédulo.
[12]Ao que Leônidas aponta para um dos aliados:
[13]– Qual é a sua profissão?
[14]– Eu sou moleiro.
[15]– E você? – prossegue Leônidas, indicando outro.
[16]– Camponês.
[17]– Você?
[18]– Ferreiro.
[19]E assim por diante.
[20]Por fim, Leônidas volta- se para os seus 300 homens e grita:
[21]– Espartanos! Qual é a sua profissão?
[22]Os 300 batem com as lanças nos escudos de ferro e urram, em uníssono:
[23]– HO-HAAAA!
[24]Leônidas sorri para o comandante aliado:
[25]– Como vê, trouxe mais soldados do que você.
[26]Imagino a mesma cena no Congresso brasileiro.
[27]Você espeta o dedo no peito de um deputado:
[28]– O senhor! Qual é a sua profissão?
[29]– Advogado.
[30]– E o senhor aí, de óculos, qual a sua profissão?
[31]– Médico.
[32]– E o senhor?
[33]– Jornalista.
[34]– Ex-palhaço de circo.
[35]– Pastor evangélico.
[36]Não existem políticos profissionais no Brasil. Ninguém é político de ________ ou faz curso de
[37]político. Os políticos somos nós, o povo inteiro. Será, então, que somos um povo de ladrões, como
[38]indica o comportamento dos nossos representantes? Será hereditário? A corrupção corre nas nossas
[39]veias, vermelha e quente? Não pode ser. Porque, se um dia houve o espartano geneticamente
[40]falando, não se pode dizer o mesmo do brasileiro.
[41]O brasileiro é índio e negro, é alemão e japonês, é italiano e português, e é tudo isso
[42]miscigenado. Então, como explicar o vezo de desonestidade do brasileiro? Tive uma pista para a
[43]solução do mistério ao ler Uma Jornada, relato que o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair fez de
[44]seu governo. Em dado momento, Blair conta que “o sistema britânico é essencialmente dirigido por
[45]funcionários públicos de carreira até nos altos escalões. Os ________ especiais são poucos e não
[46]muito frequentes (...). Quando, após alguns anos de governo, acumulei cerca de 70, algumas
[47]pessoas consideraram que isso era um ultraje constitucional”. O primeiro-ministro acumulou 70
[48]assessores e os ingleses consideraram esse número um ultraje.
[49]Quantas dezenas de milhares de funcionários foram nomeados pelos presidentes brasileiros nos
[50]últimos anos? Quase tantos, talvez, quantos os soldados do exército persa que enfrentou Leônidas.
[51]Eis a origem do mal: não são os políticos.
[52]É o sistema.
[53]É o sistema que gera a corrupção.
[54]É o sistema que precisa mudar.
COIMBRA, David. Zero Hora, 08/04/2012.
Considere as afirmações a seguir sobre a formação de algumas palavras do texto.
I. O primeiro elemento de composição da palavra eugenia (l. 03) aparece, com a mesma noção semântica de bom, belo, em palavras como eufemismo, eufonia e euforia.
II. Em uníssono (l. 22), há um elemento de composição portador da mesma carga semântica encontrada em um dos elementos de composição do vocábulo telefone.
III. O vocábulo incrédulo (l. 11) foi formado pelo mesmo processo pelo qual passaram desonestidade (l. 42), aperfeiçoamento (l. 03) e brasileiro (l.26).
IV. Em ex-primeiro-ministro (l. 43), podemos perceber os dois principais processos de formação de palavras da Língua Portuguesa: a composição e a derivação.
Quais estão corretas?
Apenas I, II e III.
Apenas I, II e IV.
Apenas I, III e IV.
Apenas II, III e IV.
Todas.