O mundo agora baseava seu sustento na substituição de um objeto pelo outro, em prazos cada vez menores
As palavras da moda eram “descartável”, “virtual” e “obsoleto”.
A vida para os vampiros não estava fácil. O sangue das pessoas podia vir com AIDS, hepatite e drogas pesadas. O dos animais era uma porcaria também, contaminado por hormônio e agrotóxicos.
Os fios estavam desparecendo. Dos telefones, dos microfones, dos aparelhos de televisão, dos rádios, das antenas. O próprio cordão umbilical ia virando coisa do passado.
Faziam-se pessoas em ampolas de vidro e, num futuro próximo, cada um poderia tirar uma cópia de si mesmo a partir de uma célula, transportar a memória para o clone e viver para sempre. Os vampiros teriam companhia.
Mas na certa só os ricos vão ser imortais.
JAF, Ivan. O vampiro que descobriu o Brasil. Nova ed. rev. e ampl. São Paulo: Ática, 2012. p. 105.
Nesse trecho do livro, Ivan Jaf, dando continuidade à busca incansável de Antônio Brás para matar o vampiro que o transformou em um ser imortal e poder voltar à sua condição normal,
critica, indiretamente, qualquer tipo de imortalidade, pois, para ele, a morte faz parte do ciclo vital e nenhum ser será capaz de mudar tal fato.
retrata a situação a que chegou a humanidade, que só visa a dinheiro e, despossuída de valores éticos, constrói, a cada dia, sua própria destruição.
ironiza a evolução técnico-científica, insinuando que os benefícios de tantas conquistas não atingem a todos e, desse modo, não visam ao bem-estar de toda a humanidade.
sinaliza que o mundo capitalista é cruel, e o ser humano não tem mais possibilidade de retorno às suas origens, de modo que, daqui para a frente, só os ricos terão vez e voz.
denuncia os abusos do homem moderno, que perdeu suas raízes e pensa apenas em destruir tudo à sua volta, objetivando mostrar que ética e justiça são palavras descartáveis no dia a dia moderno.