Prepare-se com a AIO e ganhe tempo direcionando os seus estudos
Texto 3
O meu guri
Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
[130] Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Pra lhe dar
Como fui levando
[135] Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
[130] Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
[145] É o meu guri e ele chega!
Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Pra me encabular
[150] Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Pra enfiar
Me trouxe uma bolsa
[155] Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
[160] Pra finalmente
Eu me identificar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
[165] Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
[170] Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
[175] Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Pra ele me ninar
De repente acordo
[180] Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
[185] Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
[190] Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
[195] Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
[200] Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
[205] É o meu guri!...(3x)
(Chico Buarque)
Nos versos “Desde o começo eu não disse / Seu moço!” (linhas 198 e 199), o “não” equivale a uma
negação.
afirmação.
contestação.
dúvida.