Modinha do empregado de banco
Eu sou triste como um prático de farmácia
sou quase tão triste como um homem que usa costeletas
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.
Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.
Quantas meninas pela vida afora
E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.
Se eu tivesse estes contos punha a andar
a roda da imaginação nos caminhos do mundo.
E os fregueses do Banco
que não fazem nada com estes contos!
Chocam outros contos pra não fazerem nada com eles
Também se o Diretor tivesse a minha imaginação
o Banco já não existiria mais
e eu estaria noutro lugar.
(Murilo Mendes)
Assinale a afirmação INCORRETA sobre o poema. O “eu” poético:
estabelece um denominador comum (tristeza) entre o funcionário de banco, o prático da farmácia e o homem de costeletas.
opõe o mundo interior com desejo de afetividade (“carinhos de mulher”) ao mundo exterior com rotina do trabalho (“tectec das máquinas”).
alude ao trabalho burocrático e repetitivo, reforçado pela onomatopeia "tectec".
associa o espaço externo a aspectos prazerosos da vida e o espaço interno ao aspecto fútil de sua atividade.
atribui a existência do Banco, instituição capitalista, à criatividade do Diretor do Banco.