Leia o poema a seguir para responder à questão.
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato.
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.
Nesse poema, a situação de um ser biforme é expressa a partir do modo como o eu lírico explora os recursos semânticos da figura de linguagem conhecida como
gradação, que realiza a desumanização do ser por meio de um progressivo esvaziamento de sua dignidade, restando os animais acima dele situados.
metonímia, que toma o homem pelo cão a partir de uma característica comum a ambos, a voracidade com que se alimentam.
hipérbole, que reforça a degradação do ser por meio da indignação do eu lírico ante a revelação de que o bicho era um homem.
prosopopeia, que humaniza os bichos presentes no poema por meio da aproximação entre eles e o homem com o qual se irmanam.