“A descoberta avivou o espírito do passado. D. Paula forcejou por sacudir fora essas memórias importunas; elas, porém, voltavam, ou de manso ou de assalto, como raparigas que eram, cantando, rindo, fazendo o diabo. D. Paula tornou aos seus bailes de outro tempo, às suas eternas valsas que faziam pasmar a toda a gente, às mazurcas, que ela metia à cara da sobrinha como sendo a mais graciosa coisa do mundo, e aos teatros, e às cartas, e vagamente, aos beijos; mas tudo isso – e esta é a situação – tudo isso era como as frias crônicas, esqueleto da história, sem a alma da história.”
ASSIS, Machado de. D. Paula. Várias histórias. 3. ed. São Paulo: Martins Claret, 2013, p. 128.
Em relação à citação acima, assinale a alternativa correta.
A memória de D. Paula era voluntária, pois ela se esforçava para lembrar-se dos bailes, teatros e amores do passado. Essa memória pode ser comparada à história produzida pelos historiadores. Nos dois casos os fatos do passado são resgatados para compor a alma da história.
A alma da história necessita das crônicas – esqueleto da História – mas não pode ser confundida com esta.
A memória de D. Paula era involuntária, chegava sem ser convidada, invadia sua mente e a transportava para os tempos de sua juventude; essa memória pode ser comparada à história, visto que o passado construído pelo historiador chega até ele de forma involuntária, como uma espécie de espírito ou alma dos tempos, e a função do historiador é tão somente acolher os fatos e registrá-los por escrito.
A memória de D. Paula era voluntária, como as crônicas que sustentam o esqueleto da história, sendo, por isso, confundida com a alma da história.
As cartas, os bailes, teatros e até beijos trocados no passado por D. Paula expressam o mais íntimo de sua alma; são fontes que comprovam o quanto foi feliz e amada no passado. Nesse sentido, são evidências que encarnam o espírito da história que ela vivenciou.